Composição de 1933

Prazer em Conhecê-lo

Letra

Quantas vezes, nós sorrimos, sem vontade,
Com o ódio a transbordar, no coração,
Por um, simples dever da sociedade,
No momento, de uma apresentação,
Se eu soubesse, que em tal festa te encontrava,
Não iria desmanchar o teu prazer,
Porque se lá não fosse, eu não lembrava,
Um passado, que tanto nos fez sofrer.Lá num canto, vi o meu rival antigo,
Ex-amigo,
Que aguardava o escândalo fatal,
Fiquei branco, amarelo, furta-cor,
De terror,
Sem achar, uma idéia genial,
Ainda lembro que ficamos, de repente,
Frente a frente,
Naquele instante, mais frios do que gelo,
Mas sorrindo, apertaste a minha mão,
Dizendo então:
"Tenho muito prazer em conhecê-lo"Quantas vezes, nós sorrimos sem vontade...Mas eu notei que alguém, impaciente,
Descontente,
Ia mais tarde te repreender,
Tão ciumento que até nem quis saber,
Que mais prazer,
Eu teria em não te conhecer.
"Tenho muito prazer em conhecê-lo"

História da Canção

Composta por Noel Rosa e gravada por Francisco Alves em 1933, “Prazer em Conhecê-lo” é uma das canções que mais bem retratam a maestria do Poeta da Vila na arte da ironia e da observação social aguda. A música surge em um período de efervescência cultural no Rio de Janeiro, com o samba ganhando cada vez mais espaço e Noel no auge de sua produção.

A letra constrói uma narrativa dramática e irônica sobre as convenções sociais e a necessidade de manter as aparências. O eu-lírico descreve a angústia de ter que sorrir sem vontade, com ódio no coração, apenas por um “simples dever da sociedade”. O cenário é uma festa onde, inesperadamente, ele reencontra seu “rival antigo, ex-amigo”, um encontro que desperta um passado de sofrimento e terror.

A genialidade de Noel se manifesta no clímax da canção: mesmo diante de tal aversão, o rival estende a mão e, sorrindo, profere a frase que dá título à música: “Tenho muito prazer em conhecê-lo”. Essa saudação, aparentemente cortês, é carregada de um sarcasmo mordaz e de uma hipocrisia social que Noel soube como poucos desmascarar. A música ainda insinua um triângulo amoroso e ciúme, mostrando que a complexidade das relações humanas era um tema constante em sua obra.

“Prazer em Conhecê-lo” não é apenas um registro de um dilema pessoal; é uma crítica contundente à falsidade das interações sociais, onde sentimentos genuínos são sacrificados em nome da polidez e do status. É um samba que permanece relevante por sua sagacidade e por nos fazer refletir sobre as máscaras que usamos no dia a dia.

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