Composição de 1934

Por Causa da Hora

Letra

(Senhorita adiantou o seu relógio)Meu bem
Veja quanto sou sincero
No poste sempre eu espero
Procuro bonde por bonde
E você nunca que vem
Olho, ninguém me responde
Chamo, não vejo ninguémTalvez seja por causa dos relógios
Que estão adiantados uma hora
Que eu, triste, vou-me embora
Sempre a pensar porque
Não encontro mais você?Terei que dar um beiço adiantado
Com o adiantamento de uma hora
Como vou pagar agora
Tudo o que comprei a prazo
Se ando com um mês de atraso?Eu que sempre dormi durante o dia
Ganhei mais uma hora pra descanso
Agradeço ao avanço
De uma hora no ponteiro
Viva o Dia Brasileiro!

História da Canção

“Por Causa da Hora” é um samba que reflete o gênio observador e irônico de Noel Rosa, sempre atento aos pormenores do cotidiano carioca. Composta em 1934, a canção aborda, de forma leve e bem-humorada, a implementação do horário de verão no Brasil, uma prática que gerava discussões e adaptações na rotina da população.

Noel utiliza a mudança no relógio como pano de fundo para uma série de divagações. Inicialmente, ele lamenta a ausência da amada, atribuindo a culpa à uma hora adiantada que o impede de encontrá-la. Essa é uma licença poética para expressar a melancolia do desencontro, usando um evento comum como metáfora para a falha na comunicação ou no amor.

Mas o samba vai além do romance. Em seu estilo característico, Noel não perde a oportunidade de fazer uma crítica social velada e um comentário sobre a vida boêmia. A menção ao “mês de atraso” financeiro e a “hora extra pra descanso” para quem “dormiu durante o dia” são toques de mestre que revelam a perspicácia de Noel em retratar o malandro e as dificuldades econômicas da época, sempre com um sorriso no rosto. A frase “Viva o Dia Brasileiro!” pode ser lida tanto como uma celebração irônica da iniciativa governamental quanto uma aceitação descompromissada da realidade.

A canção é um exemplo primoroso de como Noel Rosa conseguia transformar um tema trivial em uma obra de arte multifacetada, combinando o lirismo do amor não correspondido com a crítica social e o humor mordaz, tudo embalado pelo ritmo contagiante do samba.

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