Composição de 1934

Muito riso, pouco siso

Letra

Muito riso, pouco siso!
Mas, você que me intriga
Que vive a rir, sem ter razão!
(Quá, quá, quá, quá!)
Você mostra seu sorriso
Mas, não sabe que eu preciso
Conhecer seu coração!Fique sabendo que no paraíso
Por um sorriso se perdeu o baianão!
O seu sorriso que tanto brilha
É armadilha pra prender meu coração!Você sorrindo, eu chorando
Adivinhando que você vai me deixar!
Mas, porém, eu juro, eu te asseguro
Que num futuro, é você quem vai chorar!

História da Canção

"Muito Riso, Pouco Siso" é uma das pérolas que ilustram a aguda capacidade de observação e a ironia característica de Noel Rosa, o Poeta da Vila. Lançada em 1934, esta canção se insere em um período de efervescência cultural e social no Rio de Janeiro, onde o samba já se consolidava como trilha sonora da alma carioca, e Noel era um de seus maiores cronistas.

A letra, que começa com a máxima que dá nome à canção, é uma crítica sutil à superficialidade das aparências. Noel, com sua sagacidade habitual, questiona a autenticidade de um sorriso desprovido de razões profundas, ansiando por desvendar o que se esconde no coração da pessoa amada. A interjeição onomatopaica "(Quá, quá, quá, quá!)" adiciona um toque de escárnio e leveza à observação.

A referência ao "baianão" que "se perdeu no paraíso por um sorriso" é um elemento cultural riquíssimo. Trata-se de uma alusão a um personagem arquetípico do imaginário popular carioca da época, alguém que, por ingenuidade ou fascínio, arrisca e perde muito por algo efêmero, geralmente relacionado a paixões ou jogos. Noel utiliza essa metáfora para alertar sobre o perigo de se render a um encanto que pode ser uma "armadilha".

A canção culmina em uma premonição melancólica e, ao mesmo tempo, um desafio: a certeza de que a dor da despedida, hoje vivida pelo eu-lírico, será experimentada pelo outro no futuro. Essa dualidade entre a melancolia do amor não correspondido (ou temido) e a esperança de uma justiça poética futura é um dos traços mais marcantes da obra de Noel, que sabia como poucos traduzir as complexidades das relações humanas em versos simples e profundos, mesclando o samba com a crônica cotidiana.

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